Tudo parte de uma escolha. Fazer uma escolha remete a seguir um caminho e dedicar tempo para essa caminhada. Sou um dos fundadores do Teatro do Clã e responsável direto pela escolha do Rei Cego como montagem. A idéia inicial, que eu e o Cássio concluímos numa noite em frente a ACEFH de Harmonia após três meses e meio de treinamento foi a de que precisávamos construir um espetáculo para através dele conseguir pessoas com objetivos comuns para consolidar um grupo.
Esse espetáculo precisaria suprir nossas inquietações. Lembro do Cássio trazendo a temática da morte que para ele era muito importante e para mim o tempo era um tema fundamental. A idéia do tempo se dá principalmente por não termos tempo para nada. Tudo é urgente, tudo é rápido. A necessidade faz com que muitas coisas passem por nós e nada fique. Um dos objetivos que sempre quis com a montagem foi o de que algo deveria ficar. Deveríamos deixar algo para os outros. Para isso, queria que estivéssemos próximos das pessoas, que elas não apenas nos vissem, mas nos sentissem.
Tínhamos algumas pistas do que queríamos em relação à forma. Quanto ao conteúdo fomos buscar nesses dois temas chaves: morte e tempo. Encontramos vários textos que traziam essa temática de forma secundária, e o Rei Cego foi um deles. Na verdade, foi um dos primeiros. Trouxemos muitos materiais, mas acabamos voltando ao conto do Rei Cego. Precisávamos de mais pessoas para montagem daquela história e do nosso grupo. Tivemos pessoas que passaram e contribuíram para nossa montagem e pessoas que ainda permanecem e ainda contribuem muito.
No processo comecei a encontrar o tempo envolto na temática. Por mais que o Rei Cego seja uma história que tenha como tema principal a justiça, a família e os valores, eu sempre procurei encontrar a relação com o tempo. Desde o tempo que roubávamos das pessoas que iam nos assistir, que deveria ser recheado de algo muito especial, até o tempo que permeava essa história. Temos três situações idênticas com cada um dos irmãos num decorrer de tempo. O tempo que passa e leva junto as obrigações dos irmãos do príncipe, o tempo que o pai espera pelo filho que está em busca da cura, o tempo que motiva o nosso herói a fazer escolhas.
Essas inquietações com o tempo são freqüentes para mim dentro do trabalho com o Rei Cego. Montar essa história para mim foi dedicar tempo a ela, estudar a minha relação com o tempo paralela a relação temporal da história e identificar-se com as inúmeras semelhanças. Meu tempo, hoje mais do que nunca, está dedicado a esse grupo que o espetáculo ajudou a formar e o espetáculo em si me ensina o quanto o tempo é valioso e necessário para toda e qualquer construção concreta.
por Marcos Cardoso
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