Nesta primeira etapa conseguimos estruturar a dramaturgia do espetáculo, experimentar algumas soluções cênicas, trabalhar possibilidades de jogo entre os atores, sentir o que cada ator trazia em sua bagagem e em que gostaria e poderia ser desafiado. Além disso, encontramos na musicalidade, ou na musicalização da cena um gosto comum. As improvisações e a produção de matrizes corporais pré-expressivas foram pontos de partida para as improvisações resultantes da cena.
No início sentíamos O Rei Cego como um esboço sem cor que as poucos foi se colorindo e inclusive expandindo a própria forma. Não posso dizer como Peter Brook que partimos de uma “intuição amorfa”, pois mesmo antes de optar por montar o Rei Cego tínhamos traçado o que queríamos atingir com a montagem. Desde o início queríamos proximidade com o público, comicidade, elementos funcionais, trilha sonora ao vivo, coreografias... e ainda que o corpo fosse o ponto de partida para a criação.
Menciono ainda que o grupo optou por trabalhar em completo silêncio. Não divulgamos nossos projetos nem nossas atividades. O silêncio às vezes nos traz perguntas interessantes e particularmente neste período teve uma função fundamental: legitimar internamente o grupo antes de expô-lo ao mundo.
Mesmo imerso neste aparente silêncio o grupo realizou nove apresentações da peça O Rei Cego: a pré estréia na cidade de Harmonia, a estréia oficial e mais quatro apresentações no Uruguay dentro da programação da Perimetral: Muestra Internacional de Teatro de Canelones, duas apresentações na Feira do Livro de Farroupilha e ainda uma apresentação na Mostra de Teatro do Espaço da Arte, também em Farroupilha.
Foi com certeza um ano inesquecível em que o silêncio ditou as regras da criação e nos inspirou perguntas que ainda movimentam a roda de nossa trajetória!
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